1001 discos para ouvir antes de morrer # The Dictators

Go Girl Crazy!
Em 1975, dois rapazes norte-americanos, Legs McNeil e John Holmstrom, gastaram a maior parte do seu Verão a ouvir o álbum Go Girl Crazy! dos Dictators. Embebedavam-se todas as noites e acabavam aos gritos a cantar cada uma das canções do disco. Não muito tempo depois, estes dois rapazes foram os fundadores da revista Punk, uma das bíblias desse movimento anárquico que eclodiu nos últimos anos da década de setenta.
Tal como os New York Dolls, os The Dictators eram precedentes do punk. Anos antes de se ouvir falar dos Ramones, The Dead Boys e dos Sex Pistols, Dick Manitoba, a “arma secreta” dos The Dictators, já cantava acerca de vomitar comida no McDonalds, beber cerveja e assistir a filmes duvidosos de série B. Go Girl Crazy! foi um dos primeiros discos punk, muito antes de se ouvir falar dessa definição. Mas oferecia muito mais: sons de garage surf e heavy metal – o guitarrista Ross “The Boss” Funichello fundou muito mais tarde os Manowar. Os The Dictators conseguiram inúmeros admiradores, em parte graças ao sentido de humor da banda.
O disco incluía todos os ingredientes para ser um êxito, mas os acontecimentos tomaram um rumo infeliz. Pouco tempo depois do lançamento do álbum a Epic despediu-os: má gerência, digressões mal planificadas e lutas entre os membros da banda não ajudaram.
O álbum não atraiu grande interesse até 1977, momento em que as bandas como os The Ramones tinham já polido a sua própria marca punk. Os The Dictators foram marginalizados. No entanto, Go Girl Crazy! chegou primeiro!
in "1001 Discos para ouvir anes de morrer seleccionados e escritos por 90 críticos internacionais de renome"

Hoje, no Indie

"Do You Believe in Rapture", elegia dos Sonic Youth ao extinto CBGB, e "Filhos do Tédio", documentário de Rodrigo Fernandes e Rita Alcaire sobre os Tédio Boys e o ambiente rock'n'rollesco de Coimbra. Hoje, no São Jorge, pelas 18h45. Repete dia 27 de Abril, em sessão da meia-noite, no cinema Londres. (in Juramento sem bandeira)

Já rasguei a minha


Acho sempre piada a festas punk sem punks. A festa do Lux intitulada Do It Yourself T-shirt, baseada no conceito DIY (faz tu mesmo), é uma delas. Terça-feira, véspera de feriado, alguns dj´s vão passar aquilo a que chamam punk e pós-punk, o mesmo que dizer passar os Sex Pistols e os Ramones mais umas batidas novinhas em folha porque o punk ainda não morreu nem está doente. E tem-se que levar t-shirt a condizer (com o conceito, claro). Mais uma festa de Carnaval, portanto. Vamos todos voltar à moda 77 (porque do punk anterior ninguém sabe) e, se der para convencer umas miúdas, ainda se diz que se foi ver um concerto de Clash a Paris há não sei quantos anos (Zé Pedro dixit). Repita esta frase três vezes e tornar-se-á numa “verdadeira enciclopédia sobre música” (director da SIC Radical sobre o Zé Pedro).
O que já não acho piada mesmo nenhuma é o facto de estes senhores virem para os jornais falarem de coisas sobre as quais não têm conhecimento absolutamente nenhum. E não se calam com o punk. Ai, pois, “eu já fui punk mas agora já sou crescido”. Ou, “quando era miúda tinha a mania que era punk”. E eu pergunto-me, não têm vergonha? Não, já percebemos. Também percebemos que para muitos o punk é uma t-shirt rasgada e um disco dos Sex Pistols a tocar na aparelhagem mais cara do mercado. Perdoemos-lhes, eles não sabem o que dizem.
Desenganem-se aqueles que pensam que não gosto do conceito da festa. Eu até acho piada a festas punks sem punks. Mas não ando por aí a dizer que sou punk ou que já fui e que blá blá blá (ah! Estou à espera do Iggy). Raramente gosto de festas de Carnaval mas esta até é baseada num conceito que estimo. Se calhar até apareço, de dama de honor dos anos 70, para ser original.
Eu sei que é o conceito estético que lá está, que não é preciso ser-se punk para ouvir punk mas uns punks de verdade ficavam lá bem melhor. E o que mais sei é que nenhum deles queria lá estar. Nada feito, portanto.